Quem sou eu

Retrouvaille significa Redescobrir. O Retrouvaille é um Programa voltado para casais que acreditam no seu relacionamento. Trata-se de uma experiência destinada a ajudar o casal a se redescobrir e a construir um casamento mais estável e mais harmonioso, em meio às pressões da atual sociedade e desafios do cotidiano. O Retrouvaille surgiu em Quebec, Canadá, em 1977 e chegou ao Brasil em 2000, na cidade de Curitiba, e em Recife, em 2001.

sexta-feira, 26 de abril de 2013

Dialogando com a dor

Dialogando com a dor

 
(Martha Medeiros)

Não simpatizo nada com a ideia de sentir dor. Para minha sorte, elas foram raras. Vivi dois partos normais que pareceram um passeio no parque, nada doeu, sobrou relaxamento e prazer. Quando penso em dor física, o que me vem à lembrança são as idas ao dentista quando era criança. Começava a sofrer já na noite anterior, sentia enjoos fortíssimos, não conseguia dormir, passava a madrugada chorando só de imaginar que no dia seguinte teria que enfrentar a broca e seu barulho aterrorizante. Estou falando de uma época em que crianças tinham cárie – hoje muitas nem sabem o que é isso, bendito flúor.

Mas o que fazer em relação a esse tipo de dor? Se nos pega de surpresa (um tombo, uma cabeçada, um corte), suportar. Se for uma dor interna, tomar um analgésico e esperar que passe. Não se pode dialogar com a dor física. Músculos, nervos, órgãos, pele, essa turma não escuta ninguém. Ainda bem que não são dores constantes, e sim pontuais. De repente, somem.

Já a dor psíquica não é tão breve. Pode durar semanas. Meses. Sem querer ser alarmista, pode durar uma vida. Porém, é mais elegante que a dor física: nos dá a chance de duelar com ela, ao contrário da outra, que é um ataque covarde. A dor psíquica possibilita um diálogo, e isso torna a luta menos desigual. São dois pesos-pesados, sendo que você é o favorito. Escolha suas armas para vencê-la.

Armas?

Por exemplo: redija cartas para si mesmo. Console-se escrevendo sobre o que você sente e depois planeje seus próximos passos. Escrever exorciza, invoca energia. Cartas e cartas para si mesmo, estabelecendo uma relação íntima entre você e sua dor – amanse-a.

Terapia. A cura pela fala. Você buscando explicar em palavras como foi que permitiu que ela ganhasse espaço para se instalar, de onde você imagina que ela veio, quem a ajudou a se apoderar de você. Uma investigação minuciosa sobre como ela se desenvolveu e sobre a acolhida que recebeu: sim, nós e nossas dores muitas vezes nos tornamos um só. É difícil a gente se apartar do que nos dói, pois às vezes é a única coisa que dá sentido à nossa vida.

Livros. O mais deslumbrante canal de comunicação com a dor, pois através de histórias alheias reescrevemos a nossa própria e suavizamos os efeitos colaterais de estar vivo. Ler é o diálogo silencioso com nossos fantasmas. A leitura subverte nossas certezas, redimensiona nossos dramas, nos emociona, faz rir, pensar, lembrar. Catarses intimidam a dor.

Meditação. Religião. Contato com a natureza. Viagens. Amigos. Solidão. Você decide por qual caminho irá dialogar com a sua dor, num enfrentamento que, mesmo que você não saia vitorioso, ao menos fortalecerá seu caráter.

Quem não dialoga com sua dor psíquica, não a reconhece como a inimiga admirável que é, capaz de torná-lo um ser humano melhor. A reduz a uma simples dor de dente e, como uma criança, desespera-se sozinho no escuro.

As crenças são ideias antigas ...

As crenças são ideias antigas que nós não percebemos que nos escravizam. Temos grande dificuldade de nos livrarmos delas para transformamos nossas vidas em algo compatível com a nova realidade.

Assim acontece com a expectativa que as mulheres têm em relação aos seus parceiros.

Elas continuam admirando homens bem sucedidos financeiramente, o que é um equívoco, porque o sucesso financeiro definitivamente não garante que eles sejam justamente as melhores pessoas e aqueles que seriam os melhores companheiros para uma vida contemporânea onde ambos trabalham, ambos têm de contribuir para o bom andamento das atividades domésticas do cotidiano e para a educação dos filhos.


Flávio Gikovate


Assista: youtu.be/ImGal0fnmEM

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Receita para fazer alguém feliz



Fazer alguém feliz não é uma tarefa impossível de ser cumprida e, ao contrário do que muitos pensam, não é nem mesmo difícil. Está entre as primeiras promessas construídas a dois, quando um relacionamento tem início, e está também entre as últimas - quando o amor já se desgastou, mas restando ainda um derradeiro apelo. "Eu posso fazer você feliz", é o que diz uma das metades envolvidas, ou dizem ambas. Mas, o mais engraçado é que, geralmente, quem faz esse tipo de promessa a considera elaborada e até difícil de ser levada a cabo. Será?

Via de regra, em um relacionamento entre duas pessoas de gostos e sintonias semelhantes - ou complementares - não há mistério em alegrar um ao outro. Não falo da felicidade eterna, utópica, filosófica e talvez até mesmo mística. Falo da felicidade diária, aquela mais simples, porém tão gostosa, do dia após dia com as noites entre eles. Aquela felicidade de quando a gente se flagra rindo gratuitamente, por uma lembrança boa e cotidiana. É que se a gente se concentrar muito na felicidade utópica, pode perder essa alegria de rotina que, talvez, seja tudo a que a gente tenha acesso nessa vida mundana. Esse tipo de felicidade está ao alcance de todos. E compartilhá-la ou proporcioná-la a quem amamos não é desafio: é so easy.

Entre duas pessoas que convivem, não é difícil saber o que é agradável e o que é irritante ao outro. Então, por que não tentar agradar mais e irritar menos? Por que não tolerar mais e discutir menos? Saber quando vale a pena falar e quando é melhor ficar em silêncio é uma arte que muitos levam uma vida inteira para dominar - ou nunca dominam. Mas, driblar conflitos é um exercício ao alcance de todos. E mimar um pouquinho mais a quem se ama, também. Se ele(a) adora um café, por exemplo, por que não servi-lo(a)? Se ele(a) detesta quando você tamborila as unhas sobre a mesa, por que continuar tamborilando? Se você prometeu que faria/iria/telefonaria/lembraria, por que não se esforçar um pouco mais para cumprir? São coisas simples, cotidianas, banais. Mas significam menos dores de cabeça. Que, por sua vez, significam mais calmaria. E a calmaria em meio às tempestades, já não seria a felicidade?

Fazer alguém feliz, como eu disse, não é uma tarefa impossível de ser cumprida. Às vezes é aquele telefonema prometido, às vezes é a visita surpresa, às vezes é uma flor, uma massagem nos pés, um abraço, um doce, uma água de coco, um chá, uma Coca-cola com gelo e limão. Fazer alguém feliz é variável, é cheio de tentativas e de possibilidades. Mas o empenho deve ser constante e nunca é vão. Porque, à medida que a gente tenta, a receita mais clichê do mundo aparece: sendo feliz, tornamos o outro feliz também. E vice-versa, como o amor deve ser.
 

segunda-feira, 15 de abril de 2013

A importância de investir completamente no "negócio" da família



Traduzido e adaptado por Ana Maria Castellano do original The importance of investing yourself fully in the "business" of family, de Chloe Curtis.
Muitos anos atrás, como uma jovem família de três, meu marido e eu conhecemos e fizemos amigos através das atividades de nossa igreja e da comunidade. Ambos reconhecíamos que éramos apenas iniciantes quando veio a paternidade e começamos então a observar as semelhanças e padrões nas famílias que considerávamos bem-sucedidas - não em termos monetários, mas em proximidade uns com os outros.

Tivemos a sorte de estar cercados por várias famílias emocionalmente saudáveis, amorosas e ativas. Não eram perfeitos - regularmente vivenciavam lutas e desafios como todo mundo. Mas pareciam ser bons modelos, algo que estávamos procurando - famílias na rotina do dia a dia que tinham uma dinâmica familiar bem afinada e as competências da paternidade. Podiam assumir um problema, trabalhar com ele e resolvê-lo. Eu me sentia como uma esponja seca pronta para absorver a sabedoria que ganharia com suas experiências.

Uma família teve um impacto particularmente profundo em mim. Além da proximidade e compromisso que eles tinham um com o outro, o pai, um empresário de sucesso, ganhava a vida ao examinar, em grande detalhe, as empresas que estavam lutando para sobrepujar suas dificuldades. Ele analisava a empresa de alto a baixo, explicava seus pontos fortes e fracos aos líderes da organização e, se desejado, o projeto em que a empresa poderia estar em 10 anos. Às vezes, a empresa teria apenas que aceitar suas descobertas e seu trabalho já estaria feito. Em outras ocasiões, os líderes perguntavam se ele poderia elaborar um plano para os próximos 10 anos e, em seguida, procuravam sua ajuda para alcançar os objetivos da empresa. Era um trabalho fascinante. Ficamos intrigados com as histórias que ele contou das empresas que ajudou a transformar.

Era evidente para nós que alguns de seus princípios de organização poderiam ser aplicados a nossa jovem família. Então fomos trabalhar! Começamos a pensar sobre onde queríamos que a família Smurthwaite estivesse em 10 e 20 anos.

Começamos a nos fazer algumas perguntas:
• Onde queremos que a nossa família esteja espiritualmente em dez anos?
• Como poderíamos alcançar intimidade familiar contínua, confiança e comunicação?
• Como poderíamos manter o controle de nossas responsabilidades em casa e no local de trabalho e ainda conseguir tempo para recreação, experiências sociais e desenvolver interesses pessoais e hobbies?
• Como poderíamos incentivar os jovens da família a desenvolver uma ética de trabalho e abraçar a aprendizagem?
Tivemos muito a considerar!

Embora a nossa intenção não fosse conduzir nossa família como um negócio, sabíamos que poderíamos usar alguns dos princípios de um modelo de negócios eficaz para ajudar a nossa família a ser mais bem-sucedida. Sabíamos que seria necessário tempo, dedicação e um trabalho a ser amorosamente realizado. Nós também sabíamos que não poderia haver atalhos. As apostas eram altas e teríamos que nos comprometer com o tempo e energia que fossem necessários. Ao longo do caminho, tivemos que aprender a priorizar e equilibrar o básico, largar o desnecessário e manter nossos objetivos de longo prazo à vista.

Trinta e cinco anos de casamento e quatro filhos mais tarde, aqui está o que aprendemos:

• Você cometerá erros. Aprenda com eles e altere o seu curso.
• Seus objetivos necessitam de avaliação regular; faça disso uma prioridade.
• O amor é o elemento mais vital em seu círculo familiar.
• Perdoar, admitir as falhas e pedir desculpas rapidamente são elementos cruciais.
• Ajudar seu cônjuge e seus filhos a alcançarem objetivos pessoais é enriquecedor e necessário para a estima e o bem-estar emocional de cada um.
• Trabalhem arduamente e tenham um desempenho árduo juntos.
• Celebrem os sucessos, especialmente os pequenos.
• Criem suas próprias tradições e memórias.
• O padrão ouro será sempre a inteligência e a sabedoria.
• Biscoitos quentes e leite frio realmente ajudam.
• Os membros de sua família devem realmente ser os seus melhores amigos por toda a vida.

Uma ou duas décadas de dedicação à família detém milhões de pequenos momentos de ensino que permanecerão nos corações de seus filhos para toda a vida. A infância é passageira, ao passo que a paternidade o acompanhará por anos. Abrace essa viagem e nunca subestime sua influência para o bem, mesmo nos recantos remotos de sua vida.

Nosso amigo, o consultor, sabia muito sobre o resgate de empresas em dificuldades e algo do que ele ensinou nos ajudou como família. Você está disposto a investir em sua própria família? O resto é com você. Decida hoje que você focará em primeiro lugar toda sua energia em sua família e estará disposto a fazer um investimento pessoal e completo em amor e compromisso relacionado a esse encargo sagrado.

Harmonia e felicidade conjugal: Melhorando a comunicação no casamento

 
Quando um casal se comunica com amor, aumenta o sentimento de união e compreensão entre si.

É importante lembrar que a comunicação vai muito além das conversas corriqueiras sobre os compromissos do dia e as atividades dos filhos. Ela deve incluir todos os pensamentos, sentimentos ou metas.

Uma comunicação a tal ponto eficaz tem o poder de contribuir para o respeito entre o casal, diminuir os conflitos e aumentar o amor.

Se você quer se comunicar melhor com seu cônjuge, mas as respostas dele parecem não ir muito além do “sim”, “não”, “talvez”, você poderá ajudá-lo ao aplicar as seguintes técnicas:

1) Aceite as diferenças: quanto antes você reconhecer e aceitar (sem julgar nem criticar) as diferenças existentes entre você e seu cônjuge, mais facilmente a comunicação fluirá entre vocês. Isso acontecerá à medida que você se tornar mais compreensiva e atenta aos interesses dele.

2) Mostre-se interessada quando ele estiver falando: se você está lendo este artigo é porque quer ajudar seu marido a se comunicar melhor, certo? Então, quando ele começar a falar, ouça! Parece óbvio, mas não é. Durante a correria do dia a dia é comum não pararmos para ouvir o que o outro tem a dizer.

3) Faça perguntas que o ajudem a se exprimir: se quando você pergunta ao seu marido como foi o dia ele responde somente “bom” (como a grande maioria dos homens), faça mais perguntas que o ajudem a exprimir seus sentimentos. No exemplo acima, você poderia acrescentar “e o que aconteceu hoje no trabalho?”, “como você se sentiu a respeito?”.

4) Ouça ativamente: conversar não é somente ouvir. É também interagir. Reformule o que ele disse com suas palavras. Ao fazer isso, você demonstra que se interessou e compreendeu o que ele disse. Caso não tenha entendido corretamente, ele terá a oportunidade de corrigir e tentar se expressar de outra forma.

5) Elogie: os elogios sinceros melhoram incrivelmente a comunicação, pois ele se sentirá mais confiante e capaz de expor seus sentimentos.

6) Exponha suas intenções: se tiver que abordar um assunto difícil, identifique e exponha suas intenções primeiro. Assim, seu marido entenderá que seu objetivo é fortalecer o relacionamento e resolver algum problema, e não criticar ou reclamar dele. Assim, no lugar de começar uma conversa dizendo que seu marido gasta muito tempo assistindo TV, quando deveria dedicar mais atenção para você, comece dizendo que gostaria de passar mais tempo com ele, que isso iria fortalecer o relacionamento de vocês, então sugira alguma atividade que seja do agrado dos dois ou pergunte o que ele gostaria de fazer.

A boa comunicação é um hábito extremamente importante no casamento. E, como todo hábito, leva tempo para se concretizar. Por isso, não desanime. Seja persistente e em breve você colherá os frutos.

Que tal escolher uma das técnicas deste artigo e começar a praticar ainda hoje ?

http://familia.com.br/harmonia-e-felicidade-conjugal-melhorando-a-comunicacao-no-casamento?Itemid=631#.UWfvnKK-rcM

sexta-feira, 12 de abril de 2013

É preciso amar a si mesmo ... ?

Será que é preciso amar a si mesmo antes de amar aos outros?

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Sempre me surpreendo ao ouvir as pessoas falarem, com convicção, frases conhecidas, tidas como verdades, sobre as quais pouco refletiram. Elas correspondem às crenças, pontos de vista que herdamos daqueles que nos antecederam.
Temos o dever de repensar tudo, uma vez que novos conhecimentos podem criar maneiras mais sofisticadas de encarar os temas que tanto nos interessam.
Esta é uma destas frases: “se eu não conseguir me amar primeiro, não serei capaz de amar ninguém”. Isso é dito e pensado a propósito da possibilidade de estabelecermos um relacionamento íntimo, estável e de boa qualidade.
Não se está falando em termos genéricos, de modo que ela não está diretamente ligada ao ditame bíblico de que devemos “amar ao próximo como a nós mesmos”.
O “próximo” do texto bíblico é qualquer pessoa com a qual estabelecemos algum tipo de relação e não aquele ser especial com quem queremos estabelecer um relacionamento íntimo, de preferência estável e definitivo.
Além disso, penso que a ideia religiosa diz respeito ao tratamento e aos direitos, ou seja, de que devemos considerar os outros como portadores de direitos iguais àqueles que atribuímos a nós.
A forma como tenho pensado acerca do amor não nos permite falar em amor por si mesmo. Isso porque ele acontece sempre em condições interpessoais. O amor corresponde ao sentimento que temos por aquela pessoa cuja presença provoca em nós a adorável sensação de paz e aconchego.
A primeira manifestação desse sentimento corresponde ao que acontece entre mãe e filho, talvez ainda durante a vida intrauterina, mas, certamente, a partir do nascimento: a criança, desamparada e ameaçada por desconfortos de todo o tipo, se sente bem e aconchegada pela presença física da mãe e a ama; esta, por sua vez, sente enorme prazer em estar com seu bebê no colo e sente por ele enorme amor justamente porque ela também se sente aconchegada por ele.
O primeiro sentimento interpessoal é o de amor. É claro que a criança, frustrada pela ausência da mãe, também pode ficar revoltada e chorar muito por se sentir abandonada.
Talvez o segundo sentimento seja mesmo de raiva, que também é interpessoal (depende de um agressor externo).
À medida que os meses se passam e a criança vai se diferenciando, ela passa a pesquisar o mundo que a cerca, inclusive a si mesma. Ao tocar certas partes do seu corpo, experimenta uma sensação muito agradável de excitação. Trata-se de excitação sexual, esta sim pessoal e autoerótica.
Quando se pensa no sexo e amor como parte do mesmo processo, o que não é o meu ponto de vista, pode-se pensar que exista algum tipo de afeição da criança (e depois do adulto) por si mesmo.
Acontece que com a separação entre esses dois fenômenos (sendo fato que o amor acontece antes do sexo), podemos pensar no sexo como um fenômeno pessoal, mas não no amor como tal.
Assim, existe autoerotismo, mas não existe amor por si mesmo: o amor pede objeto e o primeiro objeto é nossa mãe.
Estas considerações são de natureza mais teórica. Vamos agora à prática, na qual constatamos que a grande maioria das pessoas não tem um bom juízo de si mesma. Isso significa que elas não têm boa autoestima, o que costuma ser tratado como sinônimo de ausência de amor por si mesmas.
Estima é uma palavra que pode estar associada a amor, mas também significa valor; penso mais neste segundo aspecto, de modo que baixa autoestima significa que não estou satisfeito com o meu jeito de ser.
Eu sou o juiz e também aquele que é avaliado, no caso, de forma negativa. Se isso, de fato, implicar em incapacidade para amar, podemos afirmar que o amor não existe!
O que acontece não é nada disso. Aquele que tem de si um juízo negativo costuma se interessar por alguém que seja o seu oposto. Isso sim é a regra do que acontece na realidade: nos encantamos pelos que são o oposto de nós, já que não gostamos nem um pouco do nosso jeito de ser.
As pessoas que acompanham meu trabalho sabem que considero este tipo de aliança um tanto precária e, hoje em dia, com tendência a uma vida curta.
Podemos dizer que quem não tem boa autoestima (expressão melhor do que “aquele que não se ama”) tende a amar seu oposto. A qualidade deste tipo de relacionamento é muito duvidosa, de modo que, nesse sentido, podemos dizer que aqueles que têm uma boa autoestima (expressão que substitui, com vantagens, “aquele que se ama”) tendem a estabelecer relacionamentos amorosos muito melhores encaixados e bastante mais gratificantes.
Ao pensarmos por esta ótica e se considerarmos como amor apenas este segundo tipo de relacionamento, entre pessoas de temperamento e caráter afins, podemos dizer que ele depende vitalmente de uma boa autoestima. Como ela é rara, também serão raros os relacionamentos amorosos.
Acontece que não me parece razoável pensar assim, já que os relacionamentos entre opostos também implicam em aconchego e intimidade – apesar dos problemas, conflitos, ciúmes e brigas de todos os tipos.
Assim, só poderíamos mesmo é afirmar que, para sermos muito felizes no amor, temos antes que nos entender com nós mesmos.
Talvez seja essencial um avanço na capacidade de ficar bem consigo mesmo, de correção daqueles aspectos que não gostamos em nós e do atingimento de um estado de conciliação com nossa forma de ser para que possamos estar verdadeiramente prontos para um relacionamento amoroso no qual as delícias do aconchego possam nos satisfazer plenamente.

sexta-feira, 5 de abril de 2013

A Riqueza de um Casamento Romântico

A Riqueza de um Casamento Romântico

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Do ponto de vista teórico, os casamentos com altos e duradouros lances de romantismo deveriam ser muito mais frequentes que aqueles baseados em uma sexualidade rica e exuberante. Mas, na prática, isso não ocorre.
Não quero dizer que sejam tão comuns as uniões sexualmente satisfatórias, mas que são raríssimos os casais que conseguem viver, ao longo de várias décadas, uma experiência sentimental bonita, daquelas de encher o coração de alegria e os olhos de lágrimas, de tanta emoção.
As coisas costumam ser mal colocadas desde o começo. A grande maioria dos casamentos ocorre entre uma pessoa apaixonada e outra que prefere ser objeto da paixão.
Enquanto a primeira – mais generosa – oferece, a segunda – mais egoísta – recebe. A mais generosa tem coragem de amar. A egoísta tem medo de sofrer e se protege da dor do amor ao não se abrir demais para a relação.
As uniões desse tipo apresentam momentos bonitos, é claro. Possibilitam até mesmo uma vida sexual de permanente conquista. Sim, porque o egoísta nunca se entrega totalmente ao outro, de modo que o generoso estará sempre tentando conquistá-lo.
Esse fenômeno costuma gerar alguns instantes de profundo encontro, mas são momentos vãos, que logo se desfazem. E o corre-corre das brigas e da luta pela conquista volta. No entanto, esse é apenas um dos aspectos da questão.
Outro fator de peso está nas diferenças de temperamento (generosos e egoístas são bastante diferentes), de gosto e interesses. Na vida prática, no dia-a-dia, as divergências de opinião e a falta de um projeto comum provocam irritação permanente. E isso não vale só para as grandes diferenças.
O cotidiano se faz realmente nas pequenas coisas: Onde vamos jantar? Que amigos vamos convidar? Onde vamos passar as férias? A que filme vamos assistir? Como agiremos com as crianças? O que faremos com os parentes? E assim por diante. São justamente estas pequenas contradições que provocam a irritação, a raiva e, portanto, a maioria das brigas.
As afinidades aproximam as pessoas, enquanto as diferenças as afastam.
Além do mais, a oposição é a raiz da inveja: o baixo inveja o alto; o gordo, o magro; o preguiçoso, o determinado; o introvertido, o sociável. E a inveja é inimiga do diálogo. Nesse tipo de união, as brigas serão o normal no relacionamento e os momentos de encontro e harmonia serão exceções cada vez mais raras.
Eu disse que, do ponto de vista teórico, a felicidade romântica no casamento poderia ser bastante comum porque o amor não padece do desejo de novidade que tanto agrada ao sexo.
Ao contrário, o amor é apego, é vontade de aconchego, de tranqüila intimidade. Trata-se de um sentimento que floresce e frutifica melhor quando tudo é exatamente igual e antigo. Gostamos da nossa casa, daquela velha roupa que nos agasalha tão bem. Gostamos de voltar aos mesmos lugares do passado, da nossa cidade, do nosso país.
Queremos também sentir essa solidez e estabilidade com o nosso parceiro amoroso. Amor é paz e descanso e deriva justamente do fato de uma pessoa conhecer e entender bem a outra. Por isso, é importante que as afinidades, as semelhanças, predominem sobre as diferenças de temperamento, caráter e projetos de vida.
Seres humanos parecidos poderão viver uma história de amor rica e de duração ilimitada. Não terão motivos para divergências. Não sentirão inveja.
Um último alerta – além da lição que se pode tirar da experiência, acima descrita, dos raros casais que vivem harmoniosamente – é que cada um deve procurar se unir a seu igual. Só assim o amor não será um momento fugaz.
Para que a intimidade não se transforme em tédio e continue a ser rica e estimulante, é necessário que o casal faça planos em comum e que depois se empenhe em executá-los.
De nada adianta fugir para uma ilha deserta para curtir a paixão maior. Quem fizer isso provavelmente voltará, depois de dois meses, decepcionado com a vida e com o amor.
A vida é um veículo de duas rodas: só se equilibra em movimento.
Para que duas pessoas se tornem uma unidade é preciso criar um objetivo: ter filhos, construir uma casa, um patrimônio, uma carreira profissional, um ideal… o conteúdo em si não interessa.
Seja qual for, é a cumplicidade que transforma o amor em algo fundamental. Fazer planos é sempre uma aventura excitante. É sobre eles que mais adoramos sonhar juntos.
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quarta-feira, 3 de abril de 2013

A capacidade de amar


Esta semana eu deparei com um assunto que muita gente adora, as vidas passadas. É o tema do livro do meu amigo Walcyr Carrasco, conhecido autor de novelas e um dos colunistas aqui da Época. O novo romance dele, Juntos para Sempre, tem como personagem central um advogado que começa a tropeçar em memórias de outra existência. Depois de um sonho muitas vezes repetido, ele procura um terapeuta, faz uma regressão de cinco séculos e inicia uma aventura que irá levá-lo à Espanha da Inquisição, ao encontro de um grande amor. Abri o livro na cama, na noite de domingo, e não consegui parar até a página 207, quando ele termina. Continuo sem acreditar em vidas passadas, mas me diverti um bocado.
Um aspecto menos divertido do livro do Walcyr, porém, continuou comigo depois da leitura: seu personagem principal é incapaz de amar. É um homem de quase 40 anos que gosta da companhia das mulheres, acha-as atraentes, mas nunca encontrou o sentimento profundo que justifique um compromisso. O livro explica a situação e a resolve nos seus próprios termos, mas o assunto ficou me incomodando. Há milhões de pessoas no mundo real que vivem assim, incapazes de gostar profundamente. Eu já deparei com elas, você também. Há um número ainda maior de pessoas com uma capacidade de amar muito pequena. Se formos honestos, aliás, teremos de olhar para nós mesmos, e para a nossa surrada biografia, e perguntar até que ponto somos capazes desse nobre sentimento. Eu temo que a resposta não seja agradável.
Minha impressão é que cada um de nós tem uma certa capacidade de amar. A de alguns será enorme, a de outros, mirradinha. Se isso parece estranho, compare com outros sentimentos. Medo, por exemplo. Todo mundo sabe que há pessoas mais medrosas e pessoas menos medrosas no mundo. Ou rancor. Há gente capaz de guardá-lo pela vida inteira, enquanto em outras ele desaparece em poucos dias. O mesmo vale para quase tudo. Alegria, generosidade, empatia. Cada um de nós parece dotado de diferentes quantidades de cada sentimento. A proporção e a combinação deles determinam a nossa personalidade, e a maneira como viveremos a nossa vida.
O amor não é diferente. Na escala da capacidade de amar, cada um de nós merece uma nota, que varia de 0 a 10. Claro, gostamos todos de pensar que somos 10, mas os fatos muitas vezes não autorizam essa presunção. Quantas vezes você já amou de maneira intensa, duradoura e – atenção – realista? Não vale paixão platônica, não vale amor unilateral, paixonite de carnaval não conta. A gente só descobre quanto é capaz de gostar quando o outro também gosta da gente e quando as duas vidas de alguma forma se misturam. Antes disso o jogo ainda nem começou.
Se, na vida real, você acha que é 10, mas a sua biografia sentimental não sugere mais do que quatro, pode ser que a pessoa certa ainda não tenha aparecido – mas isso pode ser apenas uma ilusão. É difícil imaginar que alguém que nunca foi capaz de se entregar ou de criar um vínculo duradouro vai conseguir fazê-lo, de uma hora para outra, porque apareceu a pessoa que tem a chave para os sentimentos dela. Soa como pensamento mágico.
Na vida real, as pessoas com grande capacidade de amar exercem esse dom ao longo da vida. Elas amam diferentes pessoas, por diferentes razões, em diferentes momentos. Ou amam a mesma pessoa desde sempre, o tempo todo. A capacidade de gostar está nelas, não vem do outro. Elas amam amar, por assim dizer. O potencial para se vincular é delas – como é delas a alegria, a coragem, a sensualidade.
A gente pode imaginar que a capacidade de amar nasce pronta com cada um de nós, mas eu prefiro pensar que a vida é quem molda os nossos sentimentos. As relações em casa e no mundo influenciam, desde muito cedo, a nossa capacidade de sentir. Sentir medo, sentir amor, sentir tristeza e alegria. Uma experiência ruim ali, uma decepção acolá, a gente nem percebe e vai se fechando feito uma ostra, desde pequeno. Quando cresce é que nota o que está fazendo falta, como a capacidade de amar ou de ser feliz – que me parecem ser a mesmíssima coisa.
Há duas maneiras de lidar com isso, eu acho. Uma é fatalista. A gente é o que é, ou é o que foi feito de nós, e não há mudança possível. Vivemos com isso e ponto. A outra, otimista, ou iluminista, sugere que saber é poder. Se você percebe que tem dificuldade em gostar das pessoas, se na escala do amor você não passa de cinco, tende mudar. Não é fácil, mas é possível. O tempo e o conhecimento melhoram a gente. Ao contrário das vidas passadas, a vida presente é mutável, melhorável e solucionável. Adorável também, de várias maneiras. De qualquer forma, tenho certeza que é a única, sem direito a segunda chance. É nosso direito, portanto, nosso dever na verdade, vivê-la da melhor forma possível – para nós e para os outros.

Ivan Martins
(http://revistaepoca.globo.com//Sociedade/ivan-martins/noticia/2013/03/capacidade-de-amar.html)